sexta-feira, 1 de maio de 2015

Fórnea - Alvados - Porto de Mós




Era Domingo. A tarde estava amena. Depois do almoço arrumamos a casa. Por todos não custa muito.
Levaram-se os talheres para a cozinha e enquanto um os ia colocando na máquina, outros começaram na limpeza do chão e da mesa colocando uma toalha  lavada e uma jarra com flores.
Parecia que esperávamos por mais visitas durante a tarde.

Vamos fazer um passeio?
- Gostaria de ir à Fórnea. Disse-nos a Lia. Vocês não conhecem e aquilo é muito bonito.
Muitas das nossas actividades como escuteiros foram realizadas naquelas encostas. 
Não é fácil subir a montanha com a mochila carregada. É preciso força e determinação. Visto da base parece fácil, mas o terreno é muito acidentado. Grandes fragas que temos de contornar. 

Em alguns recantos, cercados de muros de pedra solta, existem bois aproveitando a magra pastagem que resiste entre as pedras nuas e secas.
Precisamos de seguir o nosso caminho sem os interromper nem provocar. Nunca se sabe a reacção de um touro.
Um dia estávamos quase no cimo. Um dos rapazes quis aliviar as costas do peso da mochila, mas deixou-a cair por ali abaixo. Depois teve de descer e voltar a subir com ela às costas. Uma pequena distracção atrasou toda a equipa. Ninguém pode avançar sem estarem todos juntos.

Os nossos olhos corriam apressados no serpentear das pedras que formavam um caminho no fundo do vale. Ao lado, num plano mais fundo, havia um ribeiro completamente seco. As marcas da passagem da água eram visíveis. Nos dias de Inverno quando a chuva cai dias e dias seguidos aumenta o caudal do ribeira que agora nos mostra o fundo completamente seco e algumas lages planas e polidas.

O perfume das ervas aromáticas enchia-nos os pulmões. Rosmaninho, alfazema, funcho, erva de Santa Maria ou erva pimenta, alecrim e muitas outras distribuídas graciosamente por entre as fragas.
Parece que a cada subida a alma se tornava mais leve.
Seria um acto de agradecimento a Deus por todas estas maravilhas. 
Aqui a mão do homem ainda não alterou a matriz inicial. A Natureza viva como no início da criação.

Inesperadamente encontramos uma pequena fonte. 
Até parece que Alguém pensou em saciar-nos de água fresca. Alguém que sabia de tanta aridez e achou por bem colocar ali aquela bica para que os passarinhos e todos os outros animais pudessem saciar-se e amenizar a caminhada pela encosta da Fórnea.  

- Alguns metros mais acima e mais à frente vamos parar, informou de novo a nossa guia, a Lia.
Depois a subida é ainda mais acentuada e não existe caminho nem outro trilho que nos leve lá acima. Regressaremos pelo mesmo caminho. 
Enquanto fomos subindo reparámos que o caminho ficava mais estreito. Agora os trilhos tinham características de um carreiro onde se caminha em fila indiana.
Adensavam-se os mistérios próprios da serra d'Aire. Lendas que povoam os recantos mais altos e escarpados.
Histórias que a imaginação popular criou e alimentou dando vida à vida destas Serras do interior de Portugal.

Começámos a descida e no regresso vemos novas cores da mesma paisagem. Reparamos nos troncos das oliveiras. Figuras bizarras, plantadas quase ao acaso, em zonas mais planas e onde a mão teimosa de alguns homens as vão alimentando de podas e  outros cuidados.
Em finais do ano recolhem algum azeite que depois usam nas suas casas. É o ouro daquelas terras.
Este azeite torna todos os pratos mais finos e saborosos. 
Só mesmo quem já provou o bacalhau assado  na brasa e regado com este óleo alimentar poderá dizer que em mais nenhum lugar do mundo tem este paladar, nem este sabor do saber português.

Vimos ainda as figueiras retorcidas pela sede e já sem frutos. Vimos as ameixoeiras  que se casavam com toda a paisagem num verde seco e silencioso.
Finalmente pensei com os meus botões, não querendo quebrar o encanto nem o silêncio de toda a paisagem:
- Isto deve ser muito diferente na Primavera! Todas estas árvores renascem de vida e de esperança.
Quem sabe se poderemos voltar aqui na Primavera para nos enchermos destas maravilhas?

Agora vamos visitar as grutas. Subimos de carro, serpenteando toda a encosta. Lá em cima, depois de parar, olhámos a paisagem circundante e ficámos sem palavras. Não é possível tanta beleza. Parece uma pintura interactiva onde se sentem, alem das cores, os sons e os cheiros.

No interior das grutas a natureza caprichou com outros temas de cores e de formas muito variadas.
Entrei com muita vontade de ver, mas depois, parece que crescia em mim o desejo de sair de lá de dentro. Confesso que não gosto muito de me sentir fechado e sem saber onde encontrar uma saída.
Não há nada melhor do que viver livre com a natureza. 
A foto foi tirada no início da viagem, subindo os trilhos da Fórnea.
Luíscoelho
Maio, 2015 dia 01  

32 comentários:

  1. IIIIIIIIIIIIIII
    Estive à pouco tempo na Fórnea e adorei. Para voltar outra vez...

    ResponderEliminar
  2. Puxa, que lindo relato desse passeio! Gostei muito de ver detalhes e todas as emoções... Muito legal! Foto também linda! abraços, chica

    ResponderEliminar
  3. Que maravilhoso
    passeio !
    Adoro suas descrições.
    Conhece o meu querido
    amigo dai do seu país,
    o blog dele fala de seus
    livros e dos lugares.
    Passa por la.
    Ahhh eu o aguardo
    la no Espelhando.
    Bjins
    CatiahoAlc

    ResponderEliminar
  4. Amigo Luís: Lindo e bela imagem nunca estive nesse local mas deve ser uma maravilha viver num local desses. Bom dia do trabalhador e bom fim de semana.
    Um abraço
    Santa Cruz

    ResponderEliminar
  5. Caro Luís

    Este seu texto é um convite a passeios por este Portugal fora, que tantos lugares encantadores possui.
    Por vezes, ocorre-me pensar que só deveríamos sair para outras paragens depois de conhecermos bem
    o nosso rincão.

    Muito obrigada.

    Abraço

    Olinda

    ResponderEliminar
  6. Belíssima descrição! E um passeio pela serra em boa companhia é uma excelente opção para um dia feriado.

    Bj.

    ResponderEliminar
  7. Fantástico!!!
    Como se estivesse ali!... Magnífica descrição.
    Não conheço. e narrado assim convida a dar um passeio por ali.
    Abraço amigo

    ResponderEliminar
  8. Coelhamigo (o outro não é!...)

    Com a minha dimensão, como pudeste ver, não sou muito (nem pouco...) de caminhadas com mochila ou sem. Já me bastaram as que tive de fazer na vida militar.

    Mas gosto do que aqui nos contas. Admiro-te a pachorra! E também me admiro o dos restantes escuteiros. Muitos parabéns!

    Abç

    Já estás nos BLOGUES MAIS FIXES da nossa Travessa. Espero agora por ti... é uma ORDEM!!! :-) :-) :-)

    ResponderEliminar
  9. Quem é que gostou muito desta fotografia?
    Eu, claro!
    http://ondenaoestou.blogs.sapo.pt

    ResponderEliminar
  10. OLÁ LUIZ
    Que legal esse passeio bela descrição. Não existe coisa mais bela que a natureza. Um abraço

    ResponderEliminar
  11. Acredito que seja muito bonito, mas... deve ser bem difícil de lá chegar! A serra é agreste mas muito bela. Como bela é sempre a natureza mesmo quando enfurecida.
    Obrigada pela descrição.

    Beijinhos para si e para a sua simpática mulher.

    ResponderEliminar
  12. LA NATURALEZA ES EXIGENTE PERO HERMOSA. EXCELENTE TEXTO.
    ABRAZOS

    ResponderEliminar
  13. Pois amigo já fiz subidas desse género quando era mais nova, agora as minhas pernas
    são umas malandras e já não querem grandes esforços.
    Mas sem dúvida que é uma actividade maravilhosa e perigosa!!!
    Estar dentro das grutas também não gosto.
    Desejo-lhe um bom domingo.
    Abraço amigo.
    Irene Alves
    (Anulei o anterior comentário porque tinha uma gralha.)

    ResponderEliminar
  14. De perder o fôlego (confesso que também não sou muito amante de grutas...).

    ResponderEliminar
  15. Amigo Luís, descreve tão bem esta odisseia que sinto que viajei consigo e que subi até à Fornéa.
    Também não gosto de estar em lugares fechados, tenho alma de passarinho :)

    Um beijinho e boa semana

    ResponderEliminar
  16. Quase me senti a fazer parte desse simpático grupo.
    És perfeito na forma como nos levas pelas veredas, caminhos escarvoados e pelas belezas que a natureza nos oferece.

    ResponderEliminar
  17. Não consegui emendar, mas deves ter percebido. Queria escrever escarpados e saiu algo diferente.
    Bela viagem. Um abraço

    ResponderEliminar
  18. Está na altura de fazer esse giro. O ribeiro terá nesta altura água. É só esperar pelos próximos dias de sol, arranjar roupa e calçado apropriados, chapéu, merenda (lanche) na mochila. E ala que se faz tarde.
    O Luís tem o condão de desafiar a malta.

    ResponderEliminar
  19. Está na altura de fazer esse giro. O ribeiro terá nesta altura água. É só esperar pelos próximos dias de sol, arranjar roupa e calçado apropriados, chapéu, merenda (lanche) na mochila. E ala que se faz tarde.
    O Luís tem o condão de desafiar a malta.

    ResponderEliminar
  20. E demos um belíssimo passeio com o luís.
    Quem sabe não poderei um dia fazer o passeio na realidade e não virtualmente....
    Aquele abraço, boa semana

    ResponderEliminar
  21. Obrigada pelo belo passeio.

    Boa semana

    ResponderEliminar


  22. Oi luis,
    Que maravilha de passeio, eu não aguentaria fazê-lo, só se fosse de carro.
    Mas, pude sentir , pela sua narração, a maravilha do lugar.
    Beijos no coração

    ResponderEliminar
  23. Ola meu amigo, confesso que desta vez ainda não li o seu texto mas prometo voltar, é que fiquei a pensar que já me voltou a perder de vista, mas além de me ter adicionada no seu blogue assim como eu o tenho a si, ainda temos o G-+ que também nos leva a onde temos ligação, por agora é só isto o comentário vem depois de ler este belo passeio.
    Um grande abraço de amizade.

    ResponderEliminar
  24. Luis nos fez passear junto nesse belo texto, onde em miudezas descreveu cada momento do lugar e do passeio em si.
    Com certeza é um lugar bem bacana de se conhecer e passar um fim de tarde, ou um fim de semana.
    As vezes passeios como esse são necessários para encontrar a paz.

    Abraços
    Rafael

    ResponderEliminar
  25. ~
    ~~ Foi agradabilíssimo acompanhá-los.

    ~~~~ Grata pelo bonito passeio!


    ~~~ Uma narrativa brilhante, Luís. ~~~

    ~~~~~~ Abraços para ambos. ~~~~~~
    ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

    ResponderEliminar
  26. Olá Luís! Bela e perfeita a forma que usas para relatar as tuas aventuras. Senti-me como se estivesse participando desse passeio maravilhoso. Pela imagem, se vê o quanto é lindo o lugar.

    Abraços.

    Furtado.

    ResponderEliminar
  27. A paisagem (na foto) prometia e gostei do relato e fui imaginando toda a beleza a céu aberto que relatas tão bem. Mas...para mim...não dava! Caía morta como uma mosca esmagada. Mas ,quando voltarem à Fórnea...espero-voa cá em baixo.
    Também as grutas. sítios fechados...não dá! Sofro um pouco de claustrofobia.... Sou como tu, prefiro a natureza de portas e janelas abertas.
    Um abraço
    Graça

    ResponderEliminar
  28. Já não aguentaria um passeio destes, ao vivo, mas apesar de tudo, com a tua descrição acabei por fazê-lo, de certa forma.

    ResponderEliminar
  29. Boa tarde Luis,
    Passando para agradecer seu carinho. São as etapas da vida.
    Beijos no coração

    ResponderEliminar
  30. Olá meu amigo o prometido é devido, e como eu penso que sou uma pessoa de palavra aqui estou eu de novo, mas prometo não chatear demasiado.
    Amigo conheço as grutas mas não o vale, quero dizer-lhe que já corri o nosso País de lés a lés, e o que mais me encanta são mesmo os interiores, as aldeias e os pequenos lugares, onde cada ancião tem sempre uma linda história para contar.
    Amigo eu um dia tirei 15 dias para percorrer o Minho e e Melgaço, Castro laboreiro que que é já uma das estremas com Espanha, na volta fomos dormir a Monte Alegre e visitar Pitõns de Junias acho que nunca fui a um sítio tão medonho mas além de medonho era belo, encontramos em ruínas uma Igreja com o cemitério abandonado, e água corrente com fartura , pois a indicação que levamos era visitar uma linda cascata que por ali se encontrava.
    Amigo Luís, o que nos fez voltar quase correndo, foi um enorme ninho de vespas... enfim muita tinta eu tinha de gastar, tudo isto para lhe dizer que adorei o vosso passei e a cada linha que ia lendo ia vivendo como se lá estivera, para quem não queria maçar!
    Sou sempre a mesma coisa, beijinhos de luz e muita paz para todos voz.

    ResponderEliminar
  31. Querido Luís viajei com a descrição do lugar, obrigada por me carregar nesse embalo delicioso das palavras que nos permite ir além e portanto...viver mais. abraços, querido. Um lindo final de semana para si.

    ResponderEliminar

Cada comentário é uma presença de amizade