quinta-feira, 29 de abril de 2010

Aniversário -28/Abril/1984









Parabéns por mais este aniversário.
Foi bom ver-te rodeado de tantos amigos.
Já foste parte de nós e cresceste com amor
Hoje somos parte de ti e recebemos amor


E estes, serão sempre os nossos códigos.
Conto com os teus braços para colher 
Toda a amizade que juntos semeámos
E o teu olhar vivo e atento para receber
As coisas boas que sempre te desejámos.
Esperamos que vivas muitos anos de vida
Que cresças e sejas o grande amigo
De quantos sabem trabalhar contigo.
Vinte e seis anos foi viver sem perceber
Que tudo passa e nos faz envelhecer
E que  a nossa história se vai fazendo
Em todo o tempo que queremos ser
Homens a valer
luíscoelho


O abraço da mãe, duplicado pelo pai e triplicado pela mana

terça-feira, 27 de abril de 2010

Abril de 1974




Falar de Abril
Recordações mil
Juventude em flor
Com sonhos e esperança
Semeando mais amor
No desejo de mudança.


Falar de Abril
Recordações mil
O tempo gera vida
Nas cidades e no campo
A guerra foi vencida
Com respeito e com encanto


Falar de Abril
Recordações mil
Com cravos vermelhos
No lugar das bombas
Unindo novos e velhos
Em ondas de vida nova


Falar de Abril
Que alguém quer calar
E as flores que nasceram  
Também já querem matar.
luíscoelho



domingo, 25 de abril de 2010

Madrid de 18 a 23 de Abril

Partida de Leiria no dia 18 às 08.30. Total 46 pessoas. Idade média 55 anos.
Primeira paragem na área de serviço da barragem da Aguieira e outra para o almoço na fronteira de Vilar Formoso. 

Continuámos até Salamanca. Nova paragem para visita livre à Catedral e outros monumentos ao gosto de cada um. Tempo de paragem noventa minutos. Regresso e ponto de encontro no mesmo local do desembarque.

Ninguém se perdeu, nem se atrasou e continuámos até ao Hotel Galaico em Vilallba. Localidade situada a quarenta quilómetros a  Norte de Madrid. Foram disribuídos os quartos e informada a hora do jantar - 20h30.

Depois do Jantar a maioria recolheu aos aposentos vencidos pelo cansaço da viagem. Uma paz muito singular envolveu-nos num silêncio total. Fomos acordados pelo toque do telefone na manhã seguinte.

Dia 19
Depois do pequeno almoço  saída para Segóvia. Cada um fez o seu próprio programa. Começámos por visitar a Catedral e depois o Palácio de Alcazar.
Foi marcada a hora de regresso ao mesmo local do desembarque, ali mesmo frente aos arcos do aqueduto. São 160 arcos simetricamente perfeitos.
Segóvia é uma cidade bonita, limpa e com avenidas largas.
Os Edifícios antigos estão todos primorosamente conservados e vigiados. As novas construções estão enquadradas na paisagem urbana respeitando todo o estilo arquitectónico.
.
Às 12.30 regressámos ao hotel para o almoço. Aqui como nos outros dias de visitas ninguém se perdeu nem se atrasou.

Após o almoço, tarde livre. Procurámos os transportes públicos para descobrir Madrid.
Com as indicações que nos deram na recepção do hotel seguimos para a paragem dos autocarros e pelo preço de 2.85 € fomos até à estação de Moncloa. Zona Universitária e com ligação ao metropolitano e outros transportes.

Juntámos-nos em grupos de quatro pessoas e seguimos de táxi para o museu rainha Sofia. Edifício de três pisos, todos recheados das melhores obras de pintores espanhóis e estrangeiros. 

.Quase em todas as salas havia seguranças atentos e sistemas de video-vigilância sempre activos.

Aqui os funcionários públicos, não são escorraçados pela arrogância de políticos sem respeito nem moral. Aqui todos estão atentos para que tudo funcione correctamente.
Foram largos quilómetros de pinturas expostas que nos encheram os olhos.


Regressámos ao hotel pelos mesmos meios de transportes.

Dia 20
Saída para a Granja de San Ildefonso. Importante construção de um mosteiro que em 1720 recebeu melhoramentos e foi transformado em residência de Verão dos Reis. Construção bonita e muito cuidada. Recheada de belíssimos tapetes e pinturas.

Sistema apertado de vigilância.Todas as nossas malas foram inspeccionadas. No final de cada grupo de 25 pessoas, havia dois seguranças seguindo sempre todo o grupo de sala em sala.Os jardins são de uma beleza ímpar que a todos nos encantou.

Durante a tarde voltamos para Madrid e visitámos o Museu do Prado.

Dia 21
Saída às 09h00 para a cidade de Ávila.
Fizemos o passeio turístico de comboio e ainda pudemos visitar alguns monumentos.É uma cidade bonita e quase toda dentro das muralhas do castelo. Cidade património da humanidade.
Aqui estão assinalados 34 monumentos que podem ser visitados.

Fizemos um piquenique numa das saídas da cidade e depois fomos visitar o Escorial.
Visita sem guias mas muito bem sinalizada. Os seguranças estrategicamente dispostos vigiavam todos os corredores e salas de pinturas ou mobiliário.

Regresso ao hotel no final do dia.

Dia 22
Saída no nosso autocarro para Madrid e visita panorâmica da cidade até ao Estádio Santiago Barnabeu.
Regresso por outros pontos e paragem na Praça Maior. Retirámos os nossos lanches e partímos na aventura de descobrir a cidade pelos nossos próprios meios.

Procurei fixar pontos estratégicos para não me perder. Fomos seguindo no meio de uma multidão que enchia todas as praças de vida e movimento. 
Havia polícia montada e outra a pé de modo a evitar qualquer incidente.

Percorremos dois quarteirões e deparamos-nos com o Palácio Real.
Fomos tirando fotos e admirando todo aquele movimento exterior.

Ao lado do Palácio fica a Catedral de N. Senhora de Almudena. Entrámos e ficámos encantados com tanta beleza de arte sacra. Havia música ambiente muito suave e convidativa à oração.

Visitámos toda a Igreja que tem uma forma de cruz. O altar principal situa-se no centro como um coração que dá vida a todo o corpo dos fieis que ali se encontram ou por ali passam. 

Sentámos-nos e ficámos em meditação. 

Seguimos depois na busca de novas descobertas, passando por outras ruas e praças onde havia animações, palhaços, livros e música ao vivo.

No final da tarde regressámos ao hotel dizendo adeus a tão formosa cidade.

Não conhecemos a vida nocturna de Madrid, mas se corresponder ao que vimos durante este dia será sempre maravilhoso poder passear por aquelas ruas ou descansar nas praças.


Dia 23
Regresso a Leiria logo depois do pequeno almoço. Chegada às 16 horas.

A sintese final é a seguinte:

- Foi um passeio muito bom em todos os campos e por um preço convidativo.
- 345€  duas pessoas.
 Incluía a viagem e a estadia com pensão completa e ainda as visitas acima referidas.
As tardes e as visitas que fizemos ao museu do Prado ou da Rainha Sofia foram da nossa bolsa.

A camaradagem e o cumprimento dos horários foi maravilhoso. O Motorista e a acompanhante foram bastante acessíveis e prestáveis.

Acabamos comparando o aspecto turístico português com o espanhol e renasce uma mágoa por ver os nossos monumentos abandonados e a pouca vontade de os dotar de pessoas e equipamentos que os façam renascer para contar a nossa história, promovendo em todo o ano pacotes turísticos como este que acabamos de realizar  .

Luís Coelho

PS - Não publico nenhuma foto pois gostei de tudo de igual modo. Poderemos ver todos os monumentos referidos na net.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

A ti Camila


A ti Camila era uma figura muito característica da nossa terra.
Os filhos cresceram e fizeram-se à vida.
Ela, dedicou-se à venda na praça de Monte Real, das coisas que cultivava no campo com a ajuda do marido - o Menau.

Viviam numa casinha antiga, mesmo junto da estrada 109. Lembro-me de passar por ali e ver aquela porta grande, dentro do alpendre, sempre aberta, sem ninguém por ali perto.

As manhãs passava-as na venda, satisfazendo sempre os desejos dos seus clientes, mas regateando tudo até ao centavo.
Se não conseguisse convencê-los, então com um ar meigo dizia-lhes:
- Venha cá freguesa....não se vá embora.....! Eu perco dinheiro....mas ainda assim.... tenho aqui as coisas e quero vendê-las.

Quando pesava as batatas, as cenouras, as cebolas ou outra coisa dava um jeito com os dedos da mão, alterando o peso, conseguindo reaver a diferença dos centavos.
Artes que só ela sabia e que disfarçava com um sorriso franco.

Nos dias em que lhe faltavam produtos, ela ia junto das outras vendedoras e comprava-lhes as coisas todas que depois voltava a vender com uma pequena margem de lucro.

Geralmente, as outras vendedoras, aproveitavam a oferta para regressarem mais cedo para casa.  Algumas, tinham mesmo de voltar a tempo de aviarem o almoço aos filhos quando voltassem da escola ou ainda para tratar das suas coisas.

A ti Camila, tinha uma burra, a carriça, animal muito estimado por ela.
Para onde fosse uma, também ia a outra.

Saíam de casa muito cedo. Ela gostava de ser das primeiras a chegar ao mercado e expor a sua venda aos olhos dos compradores.

O Menau, marido, aparelhava a burra. Depois ele de um lado e a mulher do outro, encaixavam-lhe as cangalhas.

As cangalhas eram duas caixas de madeira, ligadas entre si por duas correias largas para não ferirem o dorso do animal. 

Carregavam sempre de um lado e do outro, de modo que o peso ficasse justamente equilibrado.
-Já chega de peso para o animal, advertia a ti Camila.
-Se carregamos muito a Carriça atira com tudo ao chão. Eu levo o restante à cabeça.......!

O Menau, olhava para a mulher e dizia-lhe:
- Dá cá isso. Eu vou ajudar-te até lá abaixo, à entrada da Vila. Depois já tu te entendes com o restante da viagem.

Chamava a Carriça e depois de atravessar a estrada 109 seguiam pelos pinhais, atalhando caminho, para chegarem o mais cedo possível. 

Passavam pelas ladeiras do Casal. O homem à frente, seguido da burra e por último a ti Camila.

Aqueles caminhos, eram  muito apertados. Por ali passavam diariamente os carros de bois,  transportando pessoas e bens para tratar das vinhas naquelas encostas solarengas.
Alguns pinheiros bravos teimavam em crescer naquelas encostas quase sem vegetação. A terra era cinzenta de pedaços de gesso e mica que brilhavam ao Sol.

Contavam que naqueles terreiros, mais espaçosos, se juntavam as bruxas em noites de Lua Cheia.
Havia até quem jurasse, pela sua vida, que era verdade, e que já lá tinham ido nessas noites espreitar. 

Que eram umas danças muito bonitas de se verem, só que não sabiam bem porque lhes dava um sono profundo.
Havia ali mistério....havia, havia.....

A burra sabia de cor o caminho. Quando atravessavam a Linha do Oeste,  depois da ponte de ferro, o Menau entregava à mulher a sua carga e voltava para casa.

A ti Camila, então deixava seguir a Carriça na sua frente e lá seguiam até ao mercado. 
Anda carriça, estamos quase a chegar, conversava ela com o animal.

  Encostava a carriça junto à banca da venda e descarregava tudo com desembaraço. No final dáva-lhe uma cenoura, fazia-lhe uma festa de lado e parece que lhe segredava algo mais nas orelhas. 

Depois de a prender numa oliveira que ficava nas traseiras do Mercado, voltava para arrumar melhor as suas coisas e aviar os fregueses que começavam a chegar.
Os encarregados das cozinhas dos hotéis, vinham sempre cedo e com grandes cestos para comprarem as melhores coisas.

-Então senhor Otero, o que me vai comprar hoje......?
Olhe aqui estas nabiças frescas e limpas, a alface ou o tomate....... 
- Quanto pede pelos ovos ? .....E as pêras ...? perguntavam eles iniciando logo uma guerra de preços. 
-Nem pense nisso....é muito caro.
-Venha cá freguez! Quanto é que o senhor me dá....? As coisas também nos custam muito trabalho e dão sempre as suas despesas.

Outros de passagem perguntavam:
- Qual é o preço das batatas novas.....?
- Oh rica amiga....essa batatinha é uma maravilha e eu peço pouco.....cinquenta centavos o quilo. Olhe que já só tenho esta.....! 

- Pese-me aí dois quilos. Pedia a senhora. Estou com pressa para não perder os tratamentos nas Termas.
- Então não quer comprar mais nada....? Olhe aqui estes frangaínhos criados lá em casa...... e as cebolas .....ou os alhos  e o feijão verde para a sopa...?
- Não, hoje não quero mais nada. Pague-se da batata que eu tenho de voltar para casa.

As manhãs eram passadas nisto. Sempre com um sorriso e uma vontade enorme de despachar as suas coisas por um bom preço.

Já perto do meio dia os clientes tinham voltado para as suas casas e então começava a arrumar as coisas que lhe sobraram ou que não conseguiu vender.

Ia buscar a carriça  e começava a carregar as coisas que não podiam ficar, outras deixava-as  em cima da banca tapadas com umas cortinas. Ninguém mexia em nada.

Já com a burra carregada ainda passava pelo Hotel Flora ou a Cozinha Portuguesa, a Pensão Santa Isabel, A Santa Rita, a Primavera etc a  ver se conseguia entregar  as últimas molhadas  de nabiça ou aquelas couves fechadas que mais pareciam repolho lombardo. Agora tinha de aceitar o preço que lhe dessem.

Guardava o dinheiro numa bolsa que andava presa à cintura  e que era dividida em três divisórias mais pequenas. Uma para guardar as notas de papel e outra para as moedas brancas. A última era para as moedas pretas - os centavos.

Dava um nó no lenço que lhe tapava os cabelos brancos, sempre desgrenhados, puxava a carriça para junto do muro do jardim e sentava-se em cima dela.

Começava a sua viagem de regresso a casa percorrendo o mesmo caminho mas desta vez subindo as ladeiras onde agora batia um Sol quente que parecia queimar tudo.

Já perto de casa eram as cigarras que cantavam nos pinheiros fazendo uma sinfonia de endoidecer.

Em casa iria fazer uma sopa para o marido e também para ela aconchegando o estômago com uma peça de fruta ou um pedaço de carne.

A carriça, agora livre dos arreios,  ficava no páteo e com a manjedoura cheia, podia descansar o resto do dia.

A Camila com o Menau iam para a horta mondar, adubar e tratar de tudo com muito carinho.
Já perto da noite começavam a juntar as coisas para a venda do dia seguinte.

luiscoelho

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Madrid


Posted by Picasa
Tenho as malas prontas para uma semana em Madrid. Não é maldade minha, mas talvez a vontade de vos encontrar a todos por lá.
Deixo-vos uma parte do programa.
Depois espero trazer muitas novidades em fotografias.


O panfleto , por lapso faz referência a 2009, mas isso é falso. É - 2010 - 

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Lembranças


Com as lembranças que me sobram
Vou escrevendo rascunhos de palavras
Que se trocam pelos silêncios indefinidos 
Do badalar dos sinos quando dobram
E chorando vão percorrendo os caminhos
Pintando as ruas de flores e de carinhos
E de tudo o que na vida eu amei mais.
Pinto a saudade presente na lembrança
E o amor  na saudade sem esperança
Pinturas de letras sem arte concertadas
Sem brilho de quadros tristes e apagados.
As lágrimas são as tintas fortes das pinturas
Daquelas que de saudades faz gravuras
Pela força do desgosto em vendavais.
 Estas letras nem sei porque escrevi
Correram no papel mas não amaram 
Esse amor que passou e eu não vivi
E com as tintas nessa dor se misturaram
luiscoelho

sexta-feira, 9 de abril de 2010

O tio Carnide

Posted by PicasaA picota (agro-museu Dona Julinha Ortigosa)


As madrugadas eram frias pois a geada ainda brilhava nas plantas adormecidas. Aquela aragem cortava-nos o rosto e as mãos. Era o mês de Março. De quando em vez, o Sol brilhava por umas horas, mas logo a seguir vinha uma saraivada de chuva, granizo e uma ventania que parecia levar tudo na frente.

- Se não parecesse mal, enfiava as mãos nos bolsos, dizia o tio Carnide. Nestes dias passava pela sua adega e bebia um copito de aguardente, em jejum - era o mata-bicho.
Depois, ia para a cozinha e comia uma malga de sopa com os filhos.


O tio Carnide era o irmão mais velho da minha Mãe, por isso o identifico assim.
Nas outras histórias apenas aparece o indicativo = Ti =, que é uma forma muito antiga de nos referirmos a alguém " de idade madura"

Coitado, como ele sofria com o frio. Lembro-me de olhar para aquele rosto magro, com uns olhos vivos muito pequeninos e as orelhas a desfazerem-se com as frieiras e o frio. Parecia que se arrancasse todas as escamas ficava sem orelhas.


Seguiam para o campo, trabalhar todo o dia e trocando tempo uns com os outros. Hoje vinham trabalhar para o tio e nos dias seguintes, o tio ia trabalhar para os outros pagando esse tempo.
Nunca falhavam nos dias combinados. Aqui aprenderam a respeitar os compromissos e a palavra dada, sempre com o maior respeito

-Eh, rapaziada vamos lá a isto, que o frio já passa, e esfregando com força uma mão na outra, agarrava o cabo da enxada e começava a cavar a terra à volta das videiras.
- O diacho da terra está tesa ....diziam alguns dos rapazes mais novos para o provocar.

O tio Carnide sempre com aquele sorriso de paz respondia:
- É o gelo que se entranhou neste barro, mas olhem que assim a bicharada que infesta a vinha também morre, se Deus quiser.
Ainda que tivesse entendido a maldade da conversa respondia por outra linha e não dava ocasião para outro tipo de conversa maldosa.
O tio Carnide era muito religioso. Cumpridor dos mandamentos de Deus e da Santa Igreja.
Nunca lhe ouvimos um palavrão nem mesmo aqueles termos muito usados na gíria popular.

Certo Domingo, depois da Missa, chamou o filho mais velho, o Adelino e disse-lhe:
- Até que a mãe faça o almoço, nós vamos lá acima ao Vale regar o milho e o feijão.
Ali, naquele Vale,  a água escorre em fiosinhos de todas as barreiras laterais.


Os mais antigos, fizeram pequenos tanques cavados na terra, para onde encaminhavam as águas nascidas por ali perto. Ainda hoje existem pequenas poças ou tanques que vão juntando essa água.


Depois, a um canto, construíam um estrado de madeira, para poder tirar a água para regar a horta, dividindo a distância entre a água e o terreno circundante.

Muitas manhãs, estavam ali a tirar água a cabaço ou então com a "picota".
A picota era constituída por um "esteio" de madeira terminando na parte superior com uma abertura em V, onde era encaixada uma vara de pinheiro fixa por um eixo, como se fosse uma balança.
No extremo que tocava na terra, era atada uma pedra para contrapeso e no outro extremo e que ficava para cima era pendurada outra vara mais fina com um balde na ponta.

Um homem em cima do andaime puxava a vara com o balde para dentro do poço enchendo-o, e logo a seguir, fazia o inverso, puxando para cima, até agarrar o balde que despejava num tabuleiro que corria directamente para a terra..
O contrapeso, ajudava a dividir a força quando o balde vinha cheio de água.

Nesse Domingo as coisas não lhe correram bem. O Adelino, caiu para dentro da água com todo o andaime por três vezes.
Da primeira vez repararam o que puderam e voltaram a tirar água, mas foi coisa de pouco tempo pois  voltou tudo a cair.
Tentaram reconstruir ainda uma terceira vez e o resultado foi o mesmo.

Então o tio Carnide voltou-se para o filho e disse-lhe:
- Vamos embora para casa !  O Domingo deve ser respeitado como dia de descanso e dia do Senhor.
O tio encarou todos aqueles desaires, como um aviso divino. 

Parece que nunca ninguém ficou rico, com o trabalho feito em dias santos.
A Partir desse dia nunca mais exigiu trabalho feito aos Domingos.

Contava-se que o tio Carnide, tinha uma memória prodigiosa. Onde pusesse as mãos, fazia arte.
Apareceram cá as duas primeiras bicicletas.
Uma era a do Senhor Pereira. Pessoa abastada, com uma fábrica de adubos. 
A outra era a dos Barbeiros. Famílias também de muitas "posses". 


Quando viu pela primeira vez uma bicicleta  ficou parado a estudar a máquina e o funcionamento.
Nem pensar em ter uma máquina daquelas  na sua vida....pensava ele.
Então passava noites a imaginar para ver se conseguia construir alguma coisa parecida. Era muito jovem ainda e com muita imaginação.

Com uma serra cortou um pinheiro em dois cortes simétricos, de onde saíram as rodas.
Depois, calculou o centro de cada roda e com um trado, furou-as, de modo a encaixar-lhes um eixo.


Arranjou um quadro e um guiador. Faltavam-lhe os pedais e a corrente que ele não conseguiu fazer nas suas poucas horas de lazer.
Então pegava na "traquitana" e levava-a até ao cimo das ladeiras. Sentava-se e guiava enquanto se deixava deslizar pela encosta num êxtase de pura felicidade. 

A sua alegria nestes momentos era indescritível. Todos os rapazes da aldeia seguiam as suas habilidades sempre com esperança de puderem também dar uma volta.

Não sei como chegou às sua mãos um harmónico, nem que tipo de instrumento era. Sempre pensei que seria um tipo de concertina e que ele habilidosamente lhe descobriu os sons.
Então, era vê-lo a animar todos os bailarícos,  nas desfolhadas ou outras festas cá na aldeia.
Corriam todas as casas onde pudessem conviver com alegria saudável.

Conta-se também, que um dia, vinha ele lá dos lados da Lameira, que deve distar uns cinco quilometros da sua casa. Andou a tocar por lá, a convite de alguns amigos que ainda hoje o recordam com muito respeito e saudade


O José Jorge e toda a Família. Aquilo é que eram amigos....!

Era noite cerrada, e nesse tempo também havia malfeitores, escondidos em cruzamentos e outras matas fechadas onde apenas se ouvia o sibilar do vento por entre os ramos dos pinheiros ou a corrida de algum coelho que se assustava à sua passagem.

Nessa noite apenas se guiava pelas estrelas e pelas clareiras por onde costumava passar durante o dia. O rapaz estava com um pressentimento ou estaria mesmo com medo...?

Já teria percorrido quase metade do caminho, agarrando sempre muito bem o harmónico, quando avistou um jumentinho por onde ele deveria passar. 

Mas que belo animal.
Mansinho como poucos que tenho visto....! Reparou o tio, que decidiu de seguida: !
Vou montar nele e depressa chego a casa. 

Assim pensou e assim fez. Nem se preocupou com mais nada. 
Chegando a casa deixá-lo-ia partir  e o animal irá procurar o dono.

Logo que se acomodou no dorso do burro, aquele desandou numa corrida louca que o tio Carnide nem se lembra por onde passou nem quanto tempo durou aquela viagem.

O burro parece que voava por entre os arbustos  e valados fundos . 
Havia uma ligação do seu corpo ao animal  que não podia saltar nem sair daquele lugar.

Contava o tio Carnide que de repente o burro parou perto de um silvado enorme e medonho. 
Deu um pulo mais forte, diferente dos anteriores, fincando-se nas patas dianteiras, atirando com o tio e o harmónico para dentro das silvas. 


Depois, o jumentinho, voltou-se e disse-lhe:
- "quem vai ....vai... e quem está.... está....Nunca mais te metas com quem tu não sabes....nem conheces..."

O tio levantou-se sempre agarrado ao seu harmónico e procurou o caminho para casa.
Ele, nem queria acreditar no que lhe aconteceu.

Já tinha ouvido contar algumas destas histórias, mas pensava com os seu botões que isso eram mesmo histórias.

Deitou-se, e adormeceu de cansaço. 

No dia seguinte, bem cedo, olhou-se com muito cuidado a pensar:
Devo estar todo amassado e cheio de arranhões das silvas.
Curiosamente não tinha um único vermelhão nas mãos ou na cara.

As suas mãos continuavam limpas sem picos nem outras marcas.
Logo volto lá acima para me certificar ....vou, vou...!

Não sei se ele chegou a confirmar .
Lá ficava sempre a história com aquela lição de moral:
....Quem vai...vai...
....Quem está ..está...
Este tio nasceu em 1905 e morreu com cerca de 90 anos. Era um homem de um trato muito sociável e de uma bondade sem limites.
Na aldeia todos o respeitavam e pediam a sua colaboração nas situações mais difíceis.
luiscoelho

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Máquina de costura

Cantando lindas canções
Trabalhavam todo o dia
Fazendo novas camisas
Outras mais gastas cosiam
Faziam calças e calções
Saias, blusas e combinações
Cantavam para não chorar
Dias de grandes aflições
As mãos guiavam o tecido
Os pés em baixo pedalavam
Só as gargantas cantavam
Num coro de fino gemido
Costureiras da minha aldeia
Moças simples de verdade
Cortando na vida alheia
Com a tesoura da maldade
Alinhavavam os fatos
As provas estavam feitas
Depois de cosidas à maquina
Nunca mais eram desfeitas
luíscoelho

PS - homenagem a todas aquelas que viveram desta profissão e que nos davam os carrinhos de linhas que faziam as nossas delícias.
M. Joaquina Branca da Lagoa, Tereza Mestre da Ortigosa, Beatriz da Ruivaqueira, Anália do Rio do Casal (única sobrevivente).
Todas trabalhavam por conta própria e eram pagas à peça ou ao dia quando se deslocavam a casa das freguêsas.

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quarta-feira, 7 de abril de 2010

Os nossos olhos brincaram

Os nossos olhos brincaram
E sorriram de se olhar
Foi um sorriso maroto
Foi o desejo e o graça
Que os fez brilhar de amor 
Foi uma dança a rigor
E tantas vezes se viram
E tantas outras brincaram
Que cedo se apaixonaram. 
Trocaram-se muitos desejos
Que as suas mãos agarraram
E aquela força dos beijos
Que andava ali pelo ar
Nunca perdeu o sentido
E começou a ser vivido.
Os nossos olhos brincaram
Porque o amor aconteceu.
Se continuamos a amar-nos
Foi porque o amor nos venceu. 


luíscoelho

terça-feira, 6 de abril de 2010

Sentimentos

Sentimentos
Tristes ou leves
Frutos do nosso viver
Pesados ou compassados
Nem sempre são a correr
Aqueles que são mais lentos 
São os mais tristes lamentos
Que nos vieram acordar
E ainda sem querer
Nos fizeram padecer.


Sentimentos vazios
Perdidos com os ais
Que com o tempo voaram
E a nossa alma marcaram
Com as mais belas partituras
Alegrias e farturas
E tantas coisas diversas
Que nossos olhares encantaram
luíscoelho

sábado, 3 de abril de 2010

Segura a minha mão

Segura a minha mão
Mostra-me o caminho
Tenho medo da solidão
Não sei caminhar sozinho
O caminho é pedregoso
Preciso de me amparar
Se me perder na noite
Não saberei encontrar-Te  
Vem acompanhar-me.
Segura as minhas mãos
Mostra-lhes a arte do amor
Que faz milagres do pão
Da partilha e do perdão. 
Faz delas as Tuas mãos 
Que curam os doentes
Confortam os caminhantes
Ensinam com simplicidade
O bem e a paz de verdade
luíscoelho

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Alqueire

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Com esta medida os antigos lavradores mediam as suas sementes na eira.
Feijão, milho,tremoços, trigo e centeio, cevada ou grão de bico. 
No final de cada colheita ficavam satisfeitos quando conseguiam armazenar muitos alqueires de todos os produtos.
Os agricultores abastados eram aqueles que recolhiam para si e para vender nas feiras ou mercados grandes quantidades .
Mais tarde começaram a vender os cereais ao peso.

Medidas para cereais

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Alqueire
Meio alqueire
Quarta
(metade de meio alqueire ou um quarto de alqueire)
O alqueire mede 10 litros

Agro- Museu D. Julinha em Ortigosa