domingo, 28 de fevereiro de 2010

ventos

Passam os ventos soprando 
Nas árvores com rebeldia
Marcam a sua passagem 
Em qualquer hora do dia
E fazem-nos pensar na vida
Quando a força não é aragem.
Se o sopro do vento me desse
Aquele amor que partiu
Queria que o vento soprasse
Toda a noite e todo o dia
Trazendo o tempo de volta
Com amor e muita alegria.
Os ventos são mensageiros 
De muitas coisas na vida
Parados são passageiros
À espera de nova partida
Soprando de Sul ou do Norte
Sendo mais frio ou mais forte
Sua passagem é constante 
De hora a hora  repetida
luiscoelho

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Versos

Escrevo versos nas horas paradas
Que me seguem em dias  repetidos
Fazendo o ritmo das letras apertadas 
Nas cores que me aquecem os sentidos.
Das palavras saem ideias atrevidas
Que se soltam ao sabor das tempestades
São tantas horas de rimas desabridas
Que nunca se domam nas vontades.
Muitas horas se dobram e redobram
Nos sons que não se podem transcrever
São muitos os desejos que nos sobram
Nestas horas de versos a correr.
Parado ouço as horas do tempo a voar
Vão caindo lentamente sem se ver
São versos que ainda quero cantar
E outros que tristemente irei escrever.
Nestas horas vai ficando a solidão
Que nasceu levemente na minha mão
Escrevendo sem amor e sem razão
luiscoelho

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Vidas






A Ti Carminda, completou 89 anos em Dezembro último. Tem lucidez bastante e recorda-se da sua vida passada, lutando dia e noite, para melhorar as condições de vida, da casa e da família.
Mulher destemida e determinada, para vencer todas as situações.
Aos poucos, vai recordando e recontando as suas histórias. 
Por vezes, apetece-me dizer-lhe:
- Já me contou isso centenas de vezes...! Será que ainda vai falar outra vez no assunto...?
Para ela, será sempre a primeira vez, e dá-lhe gosto, contar aqueles casos passados, e que de algum modo a marcaram.
Frente ao meu silêncio, ela abre lentamente aquele livro, que é só seu.
Não sabe ler, nem escrever, mas estes factos, e acontecimentos, foram escritos com o seu suor e sofrimento e ainda a capacidade de ver mais alem.
Um livro, que também se vai apagando lentamente.
Um dia, será a sua última história. Um dia, aquele olhar que nos mede, e nos interroga, até ao fundo da nossa alma, deixará de fazer perguntas. Nesse dia talvez pergunte:
Esqueci-me de escrever, aquela conversa das tias e das primas, quando se abeiravam da Carminda para se certificarem dos seus conhecimentos e refolhearem as suas recordações. 
Porque me esqueci de escrever...? Porque não quis perguntar...?
No seu livro, estão registadas as orações que se devem fazer para proteger a casa e a família, outras para as desgraças ou as pragas, e ainda as dos maus olhados, invejas ou espíritos malignos.
Sabe de cor, aquelas orações que se fazem pelo Natal, Páscoa ou ainda na Quaresma e ainda como as pessoas se devem comportar socialmente, respeitando-se ou ajudando-se nas horas mais complicadas ou mais felizes.
Para ela, tudo aconteceu num dia muito recente e ainda hoje não sabe onde encontrou forças para vencer situações de extrema dureza.

Alguns casos

Ontem, domingo, estávamos na Igreja assistindo à Missa. Entrou um senhor, conhecido de  todos, mas que estava doente. Tinha morrido um grande amigo seu, inesperadamente, e isso perturbou-o.
Começou a falar alto lá dentro da Igreja.
Uns riam dele, e outros olhavam com desinteresse. 
A senhora Carminda, esperou em vão, que algum dos homens presentes o ajudasse e o levasse até à rua para que se acalmasse. Como ninguém o fez, foi ela que se levantou e o  chamou. Levou-o para junto de si e recomendou-lhe:
Estamos na Igreja e vamos rezar. Essas conversas, são para a rua, para serem faladas lá fora.
O senhor ajoelhou-se no chão e ali esteve todo o tempo até ao final da cerimónia, sem abrir mais "piu", nem incomodando nenhum dos presentes.
No final todos louvaram o gesto da Ti Carminda.
Conta ainda, que durante um ano, não voltou a entrar na Igreja. Sentava-se na rua, ao sol ou à chuva, e rezava sozinho e em silêncio o terço.

II

Uma outra vez, os homens lá da aldeia, voltaram-se uns contra os outros e andavam numa contenda sem fim à vista.  Na contenda, estava também, o pai e o marido da senhora Carminda.
Prevendo maus resultados, ela, meteu-se ao meio, para os afastar. Foi quando começaram a chover as primeiras bofetadas. Como ela estava no meio foi ela que as apanhou. Não eram para ela, mas quem as deu até ficou convencido que tinha batido no adversário.
A luta terminou e cada um foi para sua casa.
A Ti Carminda guardou estas recordações que ainda hoje nos conta com muita alegria, convencida que foi ela que ajudou a serenar os animos.

III

Certo dia, um cunhado, levado de ciumes jurou que havia de matar o marido da Carminda. O Caciano.
Bem lhe mostraram, que ele não tinha razão, e que o Caciano nem lhe devia, nem lhe queria mal.
-Hei-de matá-lo e pôr-lhe os fígados ao sol...........Hum...Há-de saber quem sou eu........
- Homem, não faça isso! Ele não lhe fez mal a si e "vocemecê" estraga a sua vida, e vai para a cadeia.....diziam-lhe todos.
_ Hum.... porque assim...e por mais aquilo....eu.... mato-o.......continuava, e dito isto, mete a mão ao bolso e tira uma navalha.....
A Ti Carminda, estava por perto e como viu o que o cunhado ia fazer, pegou numa cavaca de carvalho e desancou-o sem dó nem piedade.
O tio António Pirícas, largou a navalha no chão e começou a gritar:
-  Ela bateu-me...ela bateu-me....! Vou-me queixar à polícia......! Vamos para a Justiça...
Dizia-lhe a Ti Carminda:
-  Vai...vai...Ainda vais dizer aquilo que tu és...!
Veio a Polícia de Sernancelhe e começa um inquérito.
- Então D. Carminda bateu neste senhor....?
- Bati sim senhor.
- E porque lhe bateu.....?
- Estava na minha frente e dizia que ia matar o meu marido....
- Senhor António Piricas, você não tem vergonha de levar tareia de uma mulher, e ainda ir queixar-se à polícia...?
- Você não tem juízo, nem vergonha. Veja lá a desgraça que ia fazer....!
Passado algum tempo voltaram a ser amigos e lá se desculparam por estes desaguisados.

IV

Uma outra vez, as Primas do Caciano,  andavam furiosas com senhora Carminda. Não conseguiam dar-lhe a volta e por tudo queriam que o Caciano semeasse primeiro as suas terras. Porque lhe pagavam e porque devia ser assim, mas a Carminda, já tinha combinado com o marido:
 - Primeiro, semeamos nós e depois, irás semear para elas se quiseres. Não te esqueças, que primeiro estão os teus filhos para comer, e quem manda cá em casa és tu e eu, e nunca elas......!
Como não conseguiram os seus intentos, a mais nova das primas, pegou numa pistola e foi ameaçar a Carminda.
- Dou-te um tiro e vou-te matar....! Não hás-de levar sempre as tuas razões avante.
- Nesta altura a Carminda, estava nas suas lides,  dentro de sua casa enquanto a outra barafustava na rua, fazendo grande alarido.
- Apontava a pistola e repetia:
- Vou-te matar....Vou...Vou...!
Responde a Ti Carminda:
- Dá lá o tiro depressa....vê se acertas no buraco do cu..... Já está aberto e não precisas de fazer mais estragos....! 
E continuou a fazer a sua vida descansadamente como se nada estivesse para acontecer.
A prima, ficou ainda mais furiosa, mas deu-se por vencida e lá se foi embora.

V

Uma outra vez, foram para o tribunal fazer a partilha dos terrenos da quinta.
Quando chegou a vez de todos assinarem a Ti Carminda perguntou ao Sr Dr juiz:
- É justo assinar uma partilha de menores..............??
- Os primos usaram de má fé e queriam todos os terrenos só para eles.
- Cala-te e não digas nada..... Replicavam eles na presença do Juiz.
O Doutor, ouviu e já  não fez aquela escritura, mas ainda assim, eles teimaram em considerar seus todos os terrenos, madeiras e nascentes de água, não deixando nada aos outros herdeiros.
Morreram já, e nada levaram alem da pobreza em que se afundaram com a ganância do dinheiro e uma avareza desmedida sem respeito pelos outros. 

Vl




Quando lhe nasceu o filho José,  a vida e as condições da Ti Carminda tinham melhorado pouco.
As pessoas, naquele tempo, pensavam em comprar terras e pouco se importavam com as condições das suas casas.
Lá se ajeitavam, como podiam, e havia sempre uma panela de sopa fresca todos os dias.
Era o seu sexto filho.
Um dia quando lhe dava o peito para ele mamar sentiu uma dor muito grande e a seguir o bebé "engasgou-se".
Olhou primeiro para o menino e deixou que vomitasse o seu mamilo.
Já não tinha leite e o bebé puxou até lhe decepar o mamilo.
Estancou o sangue, e fez um tratamento com ervas,  que lhe aconselharam.
A sua preocupação agora, era como iria criar aquele bebé. O menino ainda não tinha um ano.
Estava muito aflita e lamentava-se :


- Que vai ser da minha vida .... Perguntava sozinha , sem esperar que alguém lhe respondesse. 
Comprou uma cabra, e começou a dar ao bebé aquele leite fervido. Por vezes, iam para o campo logo de manhã e não podia ferver o leite da cabra. Outros dias passavam por lá o tempo todo e não podia cuidar do seu menino como devia fazer.


Já sei, disse ela. Chamou a malhadinha (era o nome da cabra). Segurou o filho com um braço e com a outra mão deu-lhe a mama directamente da cabra.
A partir desse dia a cabrita e o menino eram inseparáveis.
Logo que ouvisse o primeiro choro do bebé a cabrita vinha dar-lhe mama, alargando as patas trazeiras por cima da cabeça do bebé  de modo a que ele pudesse mamar.
De recompensa a senhora Carminda dava-lhe um naco de pão ou uns bagos de milho.
Todos se admiravam com estes pequenos milagres, e com a capacidade de contornar os problemas. Ainda teve mais dois filhos que criou apenas com um peito.
Na sua última filha é da idade do neto mais velho a quem também ainda amamentou.
Hoje olha para as suas filhas e só lhes diz:
- Vocês não sabem o que é a vida nem das dificuldades para criar um filho !....
Hoje vocês tem tudo, e lá vai recitando a " lenga-lenga" do costume.
luiscoelho

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Se eu fosse jardineiro




As cores encantam
Enchem-nos de magia
Libertam o nosso olhar
E deixam-nos sonhar
Tão simples e pequenina
Com tantas flores carregada
Passa uma semana
Passam duas e passam três
Sempre assim ornamentada
Até passa mais de um mês
Dá gosto olhar para ela
Falar-lhe com animação
Tanta beleza e tanta cor
Até faz bem ao coração
Se eu fosse jardineiro
E dela pudesse cuidar
Certamente estas flores
Jamais iriam murchar
luiscoelho
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pedras nuas




Pedras nuas, tristes a valer
Vazias de tanto penar
Formando aqueles caminhos
Onde acabei de passar
Formando tapetes com vida
Mais alegre ou colorida 
Que me fizeram sonhar
E amar mesmo sem querer


Pedras vivas e coloridas 
As que formam as avenidas
Ou os caminhos do coração
Pedras pintadas à toa
Ou pedras pintadas à mão
São aquelas que nos falam
No silêncio da oração
Ou nas alegrias sofridas 


Pedras nuas, minhas e tuas
Formando os caminhos da vida
Girando nas marés e nas luas
luiscoelho

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Medo

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Tenho medo
De me esquecer
Tenho medo
De te perder
Tenho medo 
De não ver
Tenho medos
Tantos medos
Que me matam 
Tenho medo 
E como um susto
Me escondo
E me liberto
Tenho medo
Deste viver deserto 
Neste vazio de medo
Tenho medo das sombras
Que se movem sem medo
E me prendem neste degredo.
luiscoelho

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

lágrima

Uma lágrima perdida
No teu rosto gelado
Escondia em silêncio 
O teu o teu grito calado
Morrendo levemente
Sem ninguém entender
Porque se escondia 
Sem ninguém a ver.


Uma lágrima triste 
No teu olhar transparente
Desfazia-se no brilho 
De uma estrela candente
Que corria apressada
Num sorriso encantador
Abraçando-nos a todos 
Em afecto e amor


Segurei esta lágrima 
De tão doce sabor
Que no teu rosto brilhava
Com o mais fino amor
luiscoelho

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Oração

Acordamos em silêncio. Lá fora o frio e a chuva assobiam nas paredes e nas árvores ainda nuas do Inverno. As lembranças dos temporais por esse  mundo fora caiem-nos em cima como chuvas geladas que desabam, esmagando-nos. 
Arrepiado, levanto-me. Olho a rua e vejo a chuva e o vento. 
Meu Senhor e meu Deus creio em Ti, perdoa por Te esquecer.
Lembra-Te dos pobres, sem nada e das crianças abandonadas.
Lembra-te de quantos, para alem da chuva e do frio, não tem pão para comer, nem tecto para se abrigar......!
Será que vais ouvir-me....?
Só me lembro de Ti quando estou mais aflito. Desculpa! É condição humana !
Hoje, até nem Te pedi nada para mim e os meus. Pedi para tantos, tantos cobertos de chagas e dores.
Pedi-te por todos os que Te esquecem e Te aborrecem e principalmente por aqueles que não Te conhecem nem ainda ouviram falar de Ti.
A todos, Senhor Jesus, dá paz e dá pão. Cobre-nos a todos com o Teu manto de amor.
Dá-nos mais Fé e deixa-nos amar-Te como somos e com o que temos.
Obrigado por me ensinares a orar no silêncio desta manhã
luiscoelho

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Amei-te a brincar

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Amei-te a brincar sem disso saber
Acabei amando sem mesmo querer
Procurando ver-te e querer-te bem
Em todos os recantos que a casa tem.
Amei-te a brincar e vou continuar
Não é por graça nem a destroçar
É viver a sério quando a vida vem
E tudo o que amamos tem sabor de bem
Trabalhando sempre com muito desvelo
Construindo ainda como o próprio selo
Deixando as marcas para o amanhã
E vivendo sempre de alegria sã.
Fui sincero com carinho e muita cortesia
Partilhando sempre toda aquela magia
Com tanto amor e maior alento
Que vida nos dá  em cada rebento.


A brincar se ama 
A brincar se constrói
Amando com persistência 
O amor que ama não doi

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Caminhos vazios


Caminhos vazios
No silêncio do tempo
Marcados pelos passos
Que se apagam lentos
Na passagem rápida
Destes momentos
Onde sopram vivos 
Todos os ventos

Meus gritos se vão
Nos ecos da voz
E na sombra das pedras 
Atapetando o chão
Meus cantos são ais
São tristes lamentos
São a dor que nos sai
De dentro do coração

Os caminhos são voz
O silêncio são os gritos
Que se apertam em nós
luiscoelho

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

manto estrelado

Olhei para o Céu perdido de azul
Na distância maior de que fui capaz
E vi as estrelas brilhantes e nuas
Mostrando-se sempre num brilho fugaz
Recordando os caminhos por onde andei
Me trazendo de volta aquilo que dei 


Encontrei a Lua muito devagarinho
Branca e simples de brilho esmaltado
Sacudindo  as nuvens com seu ar alado
Olhou-me de frente com muito carinho
Atirou-me um manto escuro estrelado
Para me esconder dentro destes versos
Onde moram as dores e todas as mágoas
Daqueles que choram os dias adversos


Escondido no manto me senti navegar
Bebi o conforto das estrelas no ar
Com a luz da lua sempre a namorar
luiscoelho

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

cata vento



Sou chuva e sou vento
Sou aragem e pensamento
Preso nas cordas
Que soltam o tempo
Embrulhado no frio do cata vento.

Sou uivo e sou grito
Do amor quando fico
Preso nos lençóis brancos
Desfazendo os encantos
De um  amor grande e rico

Sou água e sou gota
Sou lágrima marota
Que se esconde ao revés
Sou canto e encanto
Que se dá em marés

Sou tudo e sou nada
No vento que sopra
Os sonhos vazios
Nunca reencontrados.
luiscoelho

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Folhas caídas


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Folhas secas, acamadas
Em sombras silenciosas
Foram vidas passadas
Corridas de amor ansiosas
Gritos de liberdade
Foram som e tempestade
Em cada dia do tempo
Que fizeram o momento
Por dentro desta saudade.

Folhas secas, retorcidas,
Partidas e amassadas
Foram vidas com feridas
Na solidão escondidas
Abertas e não curadas.
Lembranças de amor 
Com vigor forte e bravio
Que sempre se foi vadio
Noutros tempos já passados

Memórias sentidas
Em folhas caídas 
De cores esquecidas

luiscoelho

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Sementes

Semeei uma semente
Que cresceu e floriu
Foi gente e produziu
Outras vidas plenamente
Num constante amanhecer
Num querer sempre viver
Na minha vida e na tua
E a vida assim continua.


A semente é um segredo
Que encerra em si uma vida
Quando se solta sem medo
Sem amarras nem degredo
Germinam de  amor guarida
Novos frutos repetidos
Mais ricos e coloridos
Nascidos dentro de nós


Semear é arte do lavrador
Nascer é milagre da vida
Viver é o dom do amor
luiscoelho

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

laranjas



Posted by PicasaEm 1984, quando nasceu o meu primeiro filho, plantei algumas árvores. Esta é uma delas. Deu frutos logo no segundo ano. Pouco lhe falta para os trinta anos. Está alta e bonita.
As laranjas começam a ficar maduras em finais de Novembro e são muito saborosas.
Cavei a terra à sua volta, podei-lhe os ramos interiores para que o Sol  e o ar circulassem livremente entre os ramos.
Há poucos anos construímos-lhe uma parede circular com quarenta centímetros de altura.
Protege as suas raízes e serve-nos de banco para as tardes quentes de Verão. No meio encheu-se de terra fértil e fez-se um lindo canteiro de flores.
É muito agradável sentarmos-nos ali nas noites quentes de Verão. Ela parece gostar de nos ouvir conversar. Coisas nossas, cá de casa, preocupações de todos os dias. 
Sendo verdadeiros estes pensamentos então esta árvore é uma boa confidente. Ouve, mas nada conta, a ninguém.  
Comparativamente o meu filho também mudou.
Deu-nos muito mais trabalho e ainda muitas preocupações. 
Os caminhos da educação são assim.
Não dá sombra, mas dá-nos o carinho das palavras e afectos.
Já tem já as suas raízes estendidas permitindo-lhe viver a sua própria vida.
Os ramos interiores, nunca puderam ser podados. Neles, apenas pudemos fazer, alguns enxertos de valores que permanecem através do tempo e das gerações.
Os seus olhos de um verde acastanhado vibram com os amigos leais e enche-nos de orgulho quando ainda nos pede um conselho ou nos oferece uma ajuda.
Gosta de se apresentar sempre bem arranjado, com gosto e elegância. Trabalhámos para que a sua roupa interior fosse ainda mais importante = honra, respeito, amizade e camaradagem..../....
Não posso nem devo fazer comparações . Apenas a idade lhe serve de termo de comparação.
Gostaria que os seus frutos fossem ainda mais doces e reconfortantes e que fosse rico de boas práticas, boas palavras, com trabalho e uma família excelente.
Os anos vindouros serão o nosso juiz pelos princípios que lhe demos e os valores que lhe transmitimos. A sua liberdade fará o restante.
luiscoelho