segunda-feira, 25 de maio de 2009

Família Lopes

Recordo o ti Lopes, a mulher, e a filha. Eram nossos vizinhos e como todas as pessoas aqui da aldeia viviam da agricultura, procurando algum rendimento com a venda de animais que criavam, de produtos que lhes sobravam ou ainda de alguma madeira no seus pinhais.
Ele era um homem baixo, magro e com muita vida.
Na Primavera gostava de os ver a semear os campos aqui ao redor. Tinham de aproveitar os meses mais frescos para que as culturas produzissem bem. Os meses de Abril, Maio e Junho eram os indicados para estas sementeiras.
Primeiro os terrenos arenosos e onde não havia água, depois iam com todas alfaias para o Vale do rio Liz e por lá passavam os dias.
Como era engraçado o Ti Lopes agarrado à rabiça do arado e segurando na outra mão a vara para tocar os bois ao rego. Passava horas a ralhar com as vaquitas que não andavam e que com as moscas e o calor paravam constantemente.
A mulher, Maria Ferreira, seguia ao lado do homem com um cesto de milho pendurado no braço e com a outra mão atirando os bagos de milho contados para cada sementeira.
Com os anos e a prática fazia-o quase de olhos fechados. As sementes tinham de cair no virar da terra sem se perderem no fundo ou ficarem à superfície pois os pássaros comiam os bagos que ficassem à vista.
Paravam só na hora do calor mais forte. Deixavam os bois descansar. Davam-lhe um molho de palha seca e depois levavam-nos a beber água no ribeiro mais próximo.
Para eles quando andavam longe de casa comiam um farnel e bebiam uma pinguita de vinho também da sua lavra.
Encostados à sombra do carro de bois dormiam ainda uma sexta para aguentarem o resto do dia a árdua tarefa da sementeira.
A meio da tarde faziam ainda uma curta paragem para a merenda. Chegados a uma ponta do rego paravam e sentavam-se como podiam para comer uma «bucha» e molhar a garganta com agua pé.
Já rente á noite tiravam as vaquitas do arado e metiam-nas a puxar uma grade de madeira e assim deixavam o terreno liso e com todas as sementes bem abafadas.
Por vezes semeavam uns poucos de feijões antes de passar com a grade. Atiravam-nos de lanço de modo a que ficassem bem divididos pelo terreno todo.
O dia terminava quando já nada se via e no céu brilhavam as primeiras estrelas.
Então recolhiam tudo e preparavam a partida. Parece que os bois sabiam o caminho de regresso a casa e descansados sentavam-se como podiam em cima do carro.
Muitos dias à noite ainda o ouvíamos a falar com a sua Maria Ferreira.
_ Trás-me o lampião para acomodar os animais.
O homem não dormia sem deixar as suas vaquitas bem tratadas. A manjedoura bem cheia de feno e mato fresco no chão do curral.
Seguiam depois para a cozinha à luz do Lampião. Era um candeeiro a petróleo muito utilizado nesse tempo pois não havia luz eléctrica aqui na aldeia.
Depois de comerem uma sopa quente lavavam os pés e a cara num alguidar de barro e assim completavam o seu dia.

2 comentários:

  1. tempos duros, sem as modernidades do presente mas mais sãos, mais ligados à realidade humana e em comunhão com a natureza..........
    Boas recordações e bonita homenagem que aqui faz, amigo Luis
    Um beijinho
    Zica

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  2. Boas lembranças não é?
    Que bom que você possue muitas boas recordações pra contar!

    Beijos

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